sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nobel da Literatura premeia alemã Herta Müller, uma voz contra a ditadura comunista


ESTOCOLMO, Suécia — A escritora alemã Herta Müller, de origem romena, foi anunciada nesta quinta-feira pela Academia Sueca como a vencedora do Prémio Nobel da Literatura de 2009, numa homenagem à sua prosa impregnada de poesia, que foi uma das principais vozes contra a ditadura de Nicolae Ceausescu, que acabou há exactamente 20 anos.
A Academia afirma num comunicado que Müller, 56 anos, foi premiada porque com a "densidade da poesia e a franqueza da prosa retrata os cenários dos abandonados".
Nascida em 17 de Agosto de 1953 na cidade de língua alemã de Nitzkydorf, perto de Timisoara, na Roménia, Müller emigrou em 1987 para a Alemanha Ocidental ao lado do marido, o escritor Richard Wagner, porque na Roménia não tinha autorização para publicar os seus livros, já que era uma crítica aberta do regime comunista.
O anúncio do prémio foi recebido com alegria e orgulho na sua cidade natal, porque "hoje, Nitchidorf existe no mapa", afirmou o prefeito Ioan Mascovescu.
Estudante e depois tradutora numa fábrica, Müller sempre foi uma opositora ao regime de Ceausescu e resistiu às pressões da Securitate, a tristemente célebre polícia política do regime, recusando-se a servir como indicadora.
Apesar de todas as pressões, a 12ª mulher a receber o Nobel de Literatura, prosseguiu com sua luta.
"É uma grande artista das palavras, mas não é apenas uma grande artista, também tem algo para contar", declarou o novo secretário permanente da Academia Sueca, Peter Englund.
Desde o seu primeiro livro de contos, "Niederungen" ("Em Terras Baixas"), escrito em 1982 - publicado como "Nadirs" em inglês -, que foi censurado pelo regime romeno e só foi publicado na versão integral dois anos depois na Alemanha, após ter sido tirado do país de maneira oculta, ela não parou de descrever as condições de vida sob a ditadura, com a sua corrupção, intolerância e opressão.
"Na sua obra ela conta uma história muito intensa, com um estilo único", ressalta Englund.
"Basta ler meia página para saber que um texto é de Herta Müller: frases curtas, riqueza das imagens e uma precisão extrema com o idioma", completa.
Por causa da proibição da publicação de suas obras na Romênia, Herta Müller optou em 1987 pelo exílio na então República Federal da Alemanha (RFA, Alemanha Ocidental), ao lado do marido, o também escritor Richard Wagner.
Mas não deixou de condenar a ditadura em romances como "O Compromisso" que, "com detalhes cinzelados dão uma imagem da vida diária em uma ditadura petrificada", afirma a nota da Academia.O seu último livro "Atemschaukel" (2009) amplia o terreno de contestação ao descrever o exílio dos romenos de língua germânica na União Soviética. A obra é baseada na experiência vivida durante cinco anos por sua mãe num campo de trabalho soviético depois da Segunda Guerra Mundial.

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